Fonte: Porvir
Por Mário D. Domingos
As ciências estão tão presentes no cotidiano e de forma tão natural
que muitas vezes nem percebemos. Por exemplo, consertos simples que
realizamos em casa envolvem conhecimentos sobre circuitos elétricos. Ler
uma bula de remédio e interpretar uma conta de luz são outros exemplos
do uso de conhecimentos básicos em ciências. Há também os temas que
envolvem decisões políticas, como aborto, mudanças climáticas,
alternativas energéticas, transgênicos, tecnologia nuclear, produção de
alimentos, abastecimento público, poluição, dentre outros. A lista dos
assuntos que trazem a ciência para nosso cotidiano é enorme.
A evolução tecnológica é diária e incorporamos isso na mesma
velocidade. Olhe seu celular que virou smartphone. O seu livro se
transformando em e-reader. É fácil ver pessoas pelas ruas utilizando
seus tablets, aparelhinhos que os conectam ao mundo, ao trabalho e à
família. Logicamente, um usuário comum não precisa saber como os
processadores e telas touch screen funcionam. Mas existe alguém que cria e desenvolve esses equipamentos.
Criar e desenvolver significa agregar valor a produtos, portanto é
algo ligado ao desenvolvimento econômico. Quem são as pessoas que fazem
isso? Como eles são estimulados a seguir as carreiras científicas e
tecnológicas? Passamos por uma crise, que tende a crescer. Faltam
técnicos, engenheiros e cientistas. Mas, afinal, estamos falando sobre
economia ou ciência agora? Sobre ambos. A cultura científica, aprendida
na escola, desde o ensino fundamental e depois ampliada e difundida
através da popularização da ciência, pode ajudar a mudar esse quadro.
E existem várias formas de se fazer isso. O hábito de buscar
conhecimento – independentemente do tema – deve surgir bem cedo e ser
contínuo. A internet é um canal incrível para levantar informações. Além
disso, há uma variedade de meios para a cultura científica ser
disseminada como em museus e exposições, cursos e oficinas, peças
teatrais, revistas e cadernos especializados em ciências, publicados
semanalmente pelos principais jornais.
Mas a escola também deve assumir seu papel de fazer a criança ter
contato com o prazer da descoberta, de preferência desde o ensino
infantil. O professor, nessa etapa, não vai ensinar conteúdos
estritamente, mas deve ser pautado por eles para que suas práticas façam
a criança se encantar pela ciência. No decorrer da vida escolar, o
contraturno pode contribuir muito para desenvolver aptidões científicas –
assim como ocorre nos clubes de ciências, muito comuns na Europa, que
expandem no tempo e no espaço a discussão sobre a disciplina.
Toda essa presença da ciência no cotidiano da escola deve ser
potencializada por professores bem formados para tal. Nos países
desenvolvidos e naqueles que se destacam em inovação e tecnologias, como
alguns asiáticos, os professores têm, em todos os níveis de ensino,
conhecimentos específicos da área de ciências. E precisamos disso aqui.
As novas tecnologias, a evolução da comunicação e das redes sociais
precisam estar inseridas no cotidiano escolar como ferramentas para
ensino. Esse é atualmente um grande desafio, dada a velocidade das
mudanças, que nem sempre são acompanhadas pelos professores da mesma
forma que pelos jovens, totalmente inseridos na cultura digital. Mais do
que a tecnologia em si, porque podemos usar um celular ou uma lousa
digital facilmente, a questão é como utilizar tudo isso para garantir um
efetivo aprendizado dos alunos.
Outro aspecto a ser considerado é que a ciência deve ser atraente aos
nossos alunos. As novas tecnologias, que são uma das principais
expressões da ciência no nosso cotidiano, já são bastante sedutoras. Mas
é preciso apresentar toda a essa beleza de forma completa. Olhar o
mundo através de um microscópio ou descobrir algo por meio de um
experimento deve encher crianças e jovens de satisfação. A ciência não
deve estar só nos livros didáticos. Suas páginas devem, contudo,
direcionar os olhos dos alunos para além de suas folhas do papel, num
percurso que se inicia no ambiente da sala de aula e termina, quem sabe,
nas estrelas. Afinal, como diz o CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico), “popularizar o conhecimento
científico é contribuir para desenvolvimento social e ampliação da
cidadania”.
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